Igreja: jardim ou deserto?
Franklin Alves Pereira

De-finir Igreja parece, senão uma tarefa impossível, ao menos complicada dada a dinamicidade da relação que acontece entre Deus e o ser humano. Por isso, não parece satisfatório finir – colocar limites – no que seria a Igreja. Escapar da linguagem meramente conceitual e fazer uso da linguagem simbólica para tratar desta realidade pancrônica e pancósmica – Igreja – ainda parece ser um caminho seguro. Além das imagens simbólicas da Igreja como povo, mãe e esposa, o símbolo do jardim parece algo sempre atual. Contudo, por mais que se use de linguagem simbólica, aqueles que escutam o anúncio não o compreenderão em profundidade se não fizerem uma experiência pessoal de encontro com o Senhor. Experiência partilhada e vivida em comunidade: Igreja.
 Faz bem lembrar que Deus vem se autocomunicando, dizendo não só quem Ele é, mais qual seu desejo ou sonho para a humanidade: levar o ser humano a sua plenitude, amando-o e fazendo-o livre. Criou-nos a sua imagem e semelhança: capazes de amar e de sermos livres. Aqui aparece o jardim: no Éden Deus caminhava com Adão e Eva – havia uma intimidade com Deus. Este símbolo mostra que Deus queria uma intimidade/proximidade e que todos podem ter esta intimidade/proximidade, aí está a Promessa. Jesus mostra que é possível este encontro íntimo e profundo, entre Deus e a humanidade, marcado pelo amor e pela liberdade. Em Jesus, a Promessa plenifica-se. Aqueles que aderem a Jesus aceitando-o como o Cristo, agregam-se a Ele no anúncio de que Deus quer uma relação íntima com a humanidade.
Contudo, abstrair da Igreja, num primeiro instante, como mera instituição que mais se assemelha a um deserto: vazia, seca, sem vida... Para vê-la como “lugar” de encontro íntimo e profundo entre Deus e humanidade – jardim - parece ser um primeiro passo para entender o porquê da Igreja. Esta se faz necessária como assembléia daqueles que fizeram uma experiência profunda de encontro com Deus em Jesus e levam adiante com gestos e palavras, como fazia o Mestre, o anúncio do Reino de Deus. Mas, o conteúdo da fé – fides quae – não basta, pois é preciso um encontro pessoal com o Senhor – fides qua – para dar sentido a tudo que nos foi anunciado. Basta relembrar, como exemplo, a narrativa do encontro do Senhor com Tomé. Por mais que a comunidade – Igreja – falasse que o Senhor estava vivo, Tomé não acreditou até o momento de seu encontro pessoal com o ressuscitado. Fides quae e fides qua não podem estar separadas. Este encontro íntimo com o Senhor é pessoal, mas não prescinde do encontro comunitário – eclesial.
Desse modo, na época atual já chamada de “era do vazio”- deserto? - ganha força o jardim - Igreja como lugar de repouso e encontro pessoal e comunitário entre Deus e a humanidade. Este jardim tão diversificado e rico, mesmo cercado pelo deserto da instituição, tem cheiro de já e ainda não!

Um comentário:

  1. Acredito muito nisto. Mas para fazer esta experiência é imprescindível con-viver com o outro, sob todos os aspectos que o outro nos traz, revelando nós mesmos nos seus rostos. Assim a IGREJA revela-se cada vez menos nos tijolos de barro e cada vez mais no barro moldado por DEUS, a sua imagem e semelhança.
    Parabéns Franklin, também acho que este é o caminho, siga-o sempre, não importa as consequências.
    Maurício Scarano Filho. Turma 2009 CTP
    Um abraço.

    ResponderExcluir