Diário da dor

Dei-me conta de que, muitas palavras da língua portuguesa, carregam outra palavra que me é muito cara: a palavra dor!
Espantei-me ao perceber que, desde o começo até o fim do dia, sou envolvido ou estou em pleno contato com a dor!
Acordei-me com o barulho do desperta-dor!
Já havia passado a noite inteira fazendo uso do ventila-dor!
Ainda embalado pelo sono fui ao banheiro e usei o barbea-dor!
Quando cheguei à cozinha para o café precisei de um coa-dor!
O suco não daria certo sem o liquidifica-dor!
Já tinha chegado a Faculdade e vi o quanto a dor se fazia presente naquele mundo de idéias! Dor, tão real! Precisei usar o apaga-dor no quadro! Meu computa-dor muita me ajuda a tomar notas das aulas! Não sou muito fala-dor! Por isso, fico calado nas aulas observando aqueles que falam, falam... o que também me causa alguma dor!
Não pratico esportes. Mas gostaria de ser, como meus amigos, nada-dor ou joga-dor! Se bem que jogo com meus sentimentos e nado nos meus devaneios!
Já de volta, em casa, vou estudar! Este é meu trabalho. Sinto-me, de fato, um trabalha-dor!
Ai, meu quarto fica na parte baixa da casa! Penso que seria bom um eleva-dor!
Tenho que caminhar e não correr pelo corre-dor até meu quarto úmido, escuro e apertado!
Puxa! O dia já está quase no fim! Tenho alguns equipamentos eletrônicos que precisam de carga. Vou pegar o carrega-dor!
Estou com fome! Vou comer algo, não muito! Não sou lá um grande come-dor!
Fui comendo, comendo... e me lembrando das aulas! Os professores falam muito e rápido! Talvez fosse bom levar um grava-dor!
Vou dormir! Não antes de rezar! Dei-me conta de que deixei de ser um reza-dor para ser alguém que é orante! Ora-dor?! Não! Este é aquele sujeito que faz discurso em formaturas! Bom, dependendo do ora-dor, dói mesmo!
Na minha oração fiquei distraído com as palavras que estão grávidas da dor! São tantas as palavras que trazem a dor em seu meio/seio! Elas parem a dor quando as pomos em prática!
Rezei olhando o crucifixo com o crucificado! Jesus, quanta dor! Sou, também, sofre-dor! As minhas dores diárias ganham sentido na sua dor!
Pensei em escrever, dizer algo de maneira poética sobre a dor! Mas... não sou poeta profissional. Sou só um ama-dor! Já disseram que o poeta é um fingi-dor!
Você já imaginou quantas palavras estão grávidas da dor?!
Bom, já é hora de dormir!
Deitei-me, apaguei a luz!
Não consegui dormir!
Quanta dor!
Onde será que deixei meu Ana-dor?!

Franklin Alves Pereira,sj

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